Quais são as reais perspectivas para o setor de turismo em 2022?
Líderes de entidades revelam as expectativas para o setor com o aumento da vacinação e a retomada das atividades
Há quem diga que 2022 não é um novo ano, mas uma continuação de 2021. Até o primeiro dia do ano, 75,79% da população já tinha recebido a primeira dose da vacina, e 67,23%, a segunda dose, situação bem distinta do início de 2021, quando os brasileiros ainda tinham apenas a expectativa da imunização.
A partir de maio de 2021, a atividade turística começou a crescer mês a mês. Pesquisa recente da Associação Brasileira das Operadoras de Turismo (Braztoa) aponta para um cenário positivo. Essa melhora também é observada pela Associação Brasileira das Agências de Viagens (Abav Nacional).
Outro dado alentador no período é o crescimento da confiança do consumidor verificado pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV/ Ibre), que subiu 0,6 ponto em dezembro, para 75,5 pontos. O ICC tem variado positivamente no último trimestre.
Para falar das expectativas para 2022, convidou as lideranças das principais entidades ligadas ao turismo no país. Todos concordam que a situação hoje é muito melhor do que em 2020 e 2021, mas mantêm cautela nas previsões.
Com a palavra, Eduardo Sanovicz (Abear), Gilson Machado (MTur), Leônidas Oliveira (Secult-MG), Magda Nassar (Abav), Manoel Linhares (Abih) e Roberto Nedelciu (Braztoa).
Gilson Machado Neto, ministro do Turismo
Para falar de 2022, não posso deixar de falar de 2021, um ano de superação. Depois de tempos difíceis para o turismo, conseguimos, com trabalho e dedicação, dar esperança novamente ao setor. Vimos, pouco a pouco, os índices das atividades turísticas subirem, a hotelaria se recuperar, o aumento do número de pessoas nos aeroportos, o retorno dos eventos, bem como o reaquecimento de toda a cadeia do turismo.
Tudo isso graças aos esforços do governo federal, direcionados pelo presidente Jair Bolsonaro, que possibilitou que o setor de turismo fosse visto como atividade econômica relevante para a geração de riqueza no país, sendo incluído definitivamente na agenda econômica do governo.
Todo o trabalho que desenvolvemos até aqui, principalmente as ações de apoio ao setor diante dos impactos da pandemia de Covid-19, tornou possível a retomada do turismo de forma eficiente, responsável e segura. Hoje, podemos dizer que estamos em plena recuperação do turismo e, para 2022, a expectativa é de recuperação total do turismo doméstico.
Vamos continuar atuando para garantir não apenas que o turismo volte aos patamares pré-pandemia, mas que se supere e desenvolva todo o seu potencial. Todas as dificuldades que enfrentamos nos tornaram mais fortes, e, com isso, não posso esperar nada além de superação para o ano de 2022.
Vamos continuar atuando para garantir, não apenas que o turismo volte aos patamares pré-pandemia e se recupere, mas que ele se supere e desenvolva todo o seu potencial. Todas as dificuldades que enfrentamos nos tornaram mais fortes, fez com que o trade e toda a cadeia do turismo se unissem mais e, com isso, não posso esperar nada além de superação para o ano de 2022.
Seremos ainda melhores e todo o nosso potencial será transformado em realidade, fazendo com que nosso país seja mais conhecido e, principalmente, valorizado. É para isso que continuaremos trabalhando incansavelmente no Ministério do Turismo.
Leônidas Oliveira, Secretário de Estado de Cultura e Turismo (Secult-MG)
O ano de 2022 se apresenta de forma nova, e novos elementos se somam às tendências observadas no turismo em 2022. Uma delas são as plataformas de streaming, com filmes de destinos turísticos, potencializando cidades, lugares e estilos de vida inusitados. Vivências únicas ou turismo de experiência e, ainda mais forte e crescente, o ecoturismo. No entanto, todos com forte experiência cultural, no sentido de compreensão da viagem nos seus aspectos cotidianos.
Com nova roupagem e de forma antagônica ao do mundo individualista digital, já se delineiam viagens em grupo com força, e sobretudo a partir de meados do ano, e a volta com força das reuniões corporativas. Isso não significa que irão cessar as reuniões online, ao contrário, serão intensificadas e, como pano de fundo o desejo é a necessidade do contato presencial. Novamente a cultura, enquanto elo de encontro de povos e de fortalecimento das relações humanas.
Creio que poderíamos chamar esse momento de um “novo humanismo”, em que a coletividade e a experiência de viver em locais inusitados para partilhar sejam o tom. A cultura é e sempre será a única força capaz de oferecer experiências verdadeiras. Compreender isso é fundamental para o mundo, que caminha a passos largos para antagonismos, tecnologia e manufatura ou, de forma mais clara, para a economia criativa como tendência de renovação da vida nas próximas décadas.
Magda Nassar, presidente da Associação Brasileira das Agências de Viagens (Abav)
A gente está vindo de um momento melhor. Depois de meses dolorosos, difícies, o turismo começou a se reconstruir, a ter demandas importantes de clientes, ainda aquém das que tínhamos em 2019, mas uma recuperação importante. Eu acho que em 2022 seguimos com as incertezas, do abre-e-fecha, da abertura dos países, das contaminações ou não, das novas cepas.
O mais importante para nós, do turismo, é que aprendemos que é possível viajar, se proteger e proteger o outro, que a vacinação é fundamental e que o viajante tem de fazer sua parte. Espero que 2022 venha com viagens a todo vapor, que a gente a siga o mesmo caminho de hoje, que é de crescimento, de novos destinos despontando, das pessoas querendo viajar efetivamente, fechar negócios.
Acho que teremos um 2022 muito melhor do que a gente esperava quando estava em 2020 e com muito pé no chão, sabendo desse vai-e-vem. Não estamos no melhor momento, mas estamos em um bom caminho, que a gente deseja que se solidifique, que a gente possa olhar para o futuro sem insegurança. O futuro do turismo é brilhante: descobrimos nesta pandemia que viajar é o maior desejo de consumo das pessoas. Viagens estão sempre em primeiro, segundo lugar nas pesquisas sobre consumo. Viajar é sempre a melhor opção.
Por outro lado, os agentes de viagens se especializaram nesses dois anos, entenderam a importância de seu papel nas viagensd e saem fortalecidos em termos profissionais. A gente espera que tudo isso se transforme em um PIB maior do que os 8% de 2019, que o governo mantenha os olhos abertos para esse segmento.
Eduardo Sanovicz, presidente da Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear)
Creio que para 2022 devem ser priorizadas ações ligadas ao combate da explosão de custos, principalmente do querosene de aviação, além da promoção fortemente voltada para o turismo doméstico. Também são fundamentais todas as iniciativas que puderem ser implementadas para a melhoria de infraestrutura e conectividade, principalmente para cidades do interior brasileiro.
Acredito que também deve haver uma agenda por parte do país, voltada para a retomada da capacidade de consumo da sociedade, para que as pessoas, resolvendo os problemas básicos ligados à sua vida cotidiana, num segundo momento possam retomar o hábito de viajar.
Roberto Nedelciu, presidente da Associação Brasileira dos Operadores de Turismo (Braztoa)
Nos últimos meses, 20% dos operadores estão com vendas maiores que em 2019. Mas a situação atual dos outros países preocupa. Aparentemente, essa nova onda não chegou ao Brasil. Mas será que estamos salvos?
Por outro lado, o mercado nacional está crescendo, mas os preços também. Ainda não estamos com a frota aérea estabelecida, mas a inflação, o custo do petróleo e a alta do dólar estão encarecendo o turismo nacional.
Uma ação que poderia ajudar os operadores a compor a recuperação econômica seria focar as promoções internacionais. Mas o governo impõe aos operadores um absurdo Imposto de Renda retido na fonte sobre as remessas para pagar os serviços no exterior de 25%, que, calculado perfaz 33% sobre o custo da viagem, que tira a competitividade dos operadores frente às empresas estrangeiras.
Portanto, vejo um 2022 de esperança e retomada, mas com reserva, pois a única saída que temos é a vacina. O ano de 2022 é de eleição, portanto seremos obrigados a nos planejar. Sou um otimista e acho que aprendemos muito nesses últimos 20 meses e conseguiremos contornar e nos adaptar.
Manoel Linhares, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (Abih)
É importante lembrar que estamos saindo de um momento difícil para a hotelaria. O setor passou a maior parte da pandemia com ocupação muito baixa ou próxima de zero. O momento é de retomada, e as perspectivas são bastante positivas. Estamos diante da oportunidade de fazer o turismo e a hotelaria ocuparem o lugar de destaque no país.
Para que isso aconteça, porém, são necessárias medidas como a aprovação da Lei Geral do Turismo (LGT), que aguarda votação no Senado.
Para enfrentar a crise que o setor vem passando por ter ficado praticamente paralisado durante a pandemia, propomos que a hotelaria seja incluída entre os 17 setores beneficiados com a extensão por mais dois anos da desoneração da folha de pagamento, uma vez que a atividade gera 8,2 milhões de empregos, mais do que as 8,1 milhões vagas abertas pelos 17 setores beneficiados juntos.
Precisamos de medidas que atraiam o turista internacional e investimentos em divulgação, quando o turismo internacional retomar com mais intensidade. Uma medida que defendemos foi finalmente atendida: a Câmara dos Deputados aprovou recentemente requerimento de urgência para votar o projeto de lei que legaliza jogos de azar no país. Com a aprovação do pedido, a tramitação pula algumas etapas, pois o texto será analisado diretamente pelo plenário, sem passar por comissões. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP/AL) é favorável ao tema e anunciou que o mérito do projeto será votado na primeira semana de fevereiro de 2022.
Outro ponto que temos ressaltado é a importância da regulação das plataformas online de aluguel de unidades residenciais. É sempre importante destacar a competição desleal a que são expostos os hotéis diante dessa modalidade de locação, que é isenta de diversas despesas e documentos, como alvarás, licenças e licenciamentos, além de não receber nenhum tipo de fiscalização a que os meios de hospedagem legalizados estão sujeitos constantemente.
Fonte de matéria: O Tempo